Summary

Miotomia robótica e fundoplicatura parcial para acalásia

Published: August 11, 2023
doi:

Summary

A miotomia cirúrgica com fundoplicatura parcial pode ser utilizada em pacientes selecionados como tratamento definitivo da acalásia. Este artigo descreve passo a passo a miotomia robótica e fundoplicatura parcial em paciente de 32 anos com megaesôfago.

Abstract

A miotomia laparoscópica de Heller é atualmente considerada o tratamento definitivo padrão da acalásia. Com os avanços da tecnologia, a miotomia robótica de Heller surgiu como uma abordagem alternativa à laparoscopia tradicional devido à visualização tridimensional (3D), controle motor fino e ergonomia aprimorada fornecida pelo robô.

Embora haja uma carência de ensaios clínicos randomizados, a miotomia de Heller assistida por robô parece estar associada a menores taxas de perfurações intraoperatórias em comparação com a abordagem laparoscópica. Uma abordagem robótica também pode melhorar os resultados cirúrgicos, proporcionando uma miotomia mais completa.

Descrevemos aqui os passos detalhados da miotomia robótica e fundoplicatura parcial para acalásia.

Introduction

A acalásia é uma doença neurodegenerativa primária da motilidade esofágica caracterizada por peristaltismo anormale falha do relaxamento do esfíncter esofágico inferior1. O tratamento da acalasia visa reduzir a pressão de repouso do esfíncter esofágico inferior, permitindo o esvaziamento esofágico2. Existem múltiplas opções para o tratamento da acalasia, como terapia farmacológica oral, terapia farmacológicaendoscópica3, dilatação pneumática4, miotomia endoscópica peroral (POEM)5 e miotomiacirúrgica6.

A miotomia cirúrgica, na qual as fibras musculares do esfíncter inferior do esôfago são divididas, tem sido descrita como uma das três terapias definitivas para a acalasia não avançada, juntamente com a dilatação pneumática e a miotomia endoscópicaperoral7,8. A adição de fundoplicatura é realizada como procedimento anti-refluxo, uma vez que a miotomia reduz a pressão do esfíncter esofágico inferior, o que pode resultar em potencial doença do refluxo gastroesofágico9,10.

A miotomia laparoscópica de Heller tornou-se o procedimento cirúrgico mais comum para o tratamento da acalásia devido à diminuição da dor pós-operatória e à redução da morbidade em comparação com outras abordagens cirúrgicas, como toracotomia, laparotomia e toracoscopia11,12. A miotomia robótica de Heller surgiu como uma alternativa minimamente invasiva à laparoscopia para o tratamento da acalásia devido às vantagens mecânicas proporcionadas pela abordagem robótica, como visualização tridimensional ampliada de alta resolução e tremor fisiológico minimizado13,14,15.

Este artigo apresenta o caso de um paciente de 32 anos com disfagia crônica, regurgitação e perda de peso. A disfagia foi inicialmente associada a sólidos, evoluindo lentamente também para líquidos. Negava outros sintomas clínicos, como pirose, dor epigástrica e plenitude pós-prandial. Inicialmente, foi realizada avaliação endoscópica para exclusão de malignidade (Figura 1). O exame revelou dilatação e tortuosidade do esôfago, bem como retenção de alimento, que foi completamente aspirado com o endoscópio. Também foi identificado espessamento da mucosa e não foram detectadas lesões neoplásicas. A imagem em banda estreita mostrou padrões vasculares e mucosos normais. A junção gastroesofágica localizava-se ao nível da crus diafragmática.

A investigação prosseguiu, então, com manometria esofágica (Figura 2) e esofagograma opaco (Figura 3). A manometria mostrou relaxamento da junção gastroesofágica comprometido e esôfago com ausência de peristaltismo. Os achados do esofagograma baritado foram dilatação esofágica e retardo no esvaziamento do bário. O diagnóstico de acalasia foi então estabelecido pelos achados na manometria e esofagograma opaco. O paciente foi considerado elegível para miotomia robótica e fundoplicatura parcial.

O objetivo deste artigo é fornecer uma descrição passo a passo de uma miotomia de Heller robô-assistida, realizada na Universidade de São Paulo.

Protocol

O registro do procedimento cirúrgico e a utilização de seu conteúdo por motivos científicos e educacionais foram explicados ao paciente; em seguida, assinou um termo de consentimento livre e esclarecido, de acordo com o comitê de ética humana da Instituição. Também foi obtido consentimento informado para os procedimentos cirúrgicos e anestésicos. OBS: Pacientes com diagnóstico confirmado de acalasia pela manometria e achados do esofagograma baritado podem ser incluídos no protoco…

Representative Results

Resultados representativos são apresentados na Tabela 1. O tempo de operação foi de 112 min, com uma perda sanguínea medida de 20 mL. A evolução pós-operatória foi tranquila. Os cuidados pós-operatórios foram realizados em um quarto hospitalar regular. Não houve necessidade de unidade de terapia intensiva, pois não houve complicações. Iniciou-se dieta líquida após o primeiro dia da cirurgia, não relatando disfagia. A paciente recebeu alta hospitalar em boas condições no 2º dia de pós…

Discussion

Este protocolo descreve a miotomia robótica e a fundoplicatura parcial como tratamento para acalásia. O artigo destaca uma fundoplicatura Heller Pinotti, que consiste em uma variação da fundoplicatura clássica de Dor. Essa técnica, apresentada no artigo, demonstra o desempenho de três fileiras de suturas, ao invés das duas clássicas suturas realizadas na fundoplicatura Dor. O tipo ótimo de fundoplicatura, incluindo total, anterior ou posterior, tem sido extensivamente estudado na literatura, mas ainda há contr…

Divulgations

The authors have nothing to disclose.

Acknowledgements

Nenhum.

Materials

Da Vinci Surgical System Intuitive Surgical
Needle driver Intuitive Surgical
Bipolar forceps Intuitive Surgical
Bipolar Fenestrated Grasper Intuitive Surgical
Ultracision Johnson &  Johnson

References

  1. Moonen, A., Boeckxstaens, G. Current diagnosis and management of achalasia. Journal of Clinical Gastroenterology. 48 (6), 484-490 (2014).
  2. Tuason, J., Inoue, H. Current status of achalasia management: a review on diagnosis and treatment. Journal of Gastroenterology. 52 (4), 401-406 (2017).
  3. Pasricha, P. J., Rai, R., Ravich, W. J., Hendrix, T. R., Kalloo, A. N. Botulinum toxin for achalasia: long-term outcome and predictors of response. Gastroenterology. 110 (5), 1410-1415 (1996).
  4. Eckardt, V., Gockel, I., Bernhard, G. Pneumatic dilation for achalasia: late results of a prospective follow up investigation. Gut. 53 (5), 629-633 (2004).
  5. Inoue, H., et al. Peroral endoscopic myotomy (POEM) for esophageal achalasia. Endoscopy. 42 (4), 265-271 (2010).
  6. Doubova, M., et al. Long-term symptom control after laparoscopic heller myotomy and dor fundoplication for achalasia. Annals in Thoracic Surgery. 111 (5), 1717-1723 (2021).
  7. Vaezi, M. F., Pandolfino, J. E., Yadlapati, R. H., Greer, K. B., Kavitt, R. T. ACG clinical guidelines: Diagnosis and management of achalasia. American Journal of Gastroenterology. 115 (9), 1393-1411 (2020).
  8. Triadafilopoulos, G., et al. The Kagoshima consensus on esophageal achalasia. Diseases of Esophagus. 25 (4), 337-348 (2012).
  9. Richards, W. O., et al. Heller myotomy versus Heller myotomy with Dor fundoplication for achalasia: A prospective randomized double-blind clinical trial. Annals of Surgery. 240 (3), 405-415 (2004).
  10. Wang, X. H., Tan, Y. Y., Zhu, H. Y., Li, C. J., Liu, D. L. Full-thickness myotomy is associated with a higher rate of postoperative gastroesophageal reflux disease. World Journal of Gastroenterology. 22 (42), 9419-9426 (2016).
  11. Ali, A., Pellegrini, C. A. Laparoscopic myotomy: technique and efficacy in treating achalasia. Gastrointestinal Endoscopy Clinics of North America. 11 (2), 347-358 (2001).
  12. Spiess, A. E., Kahrilas, P. J. Treating achalasia: from whalebone to laparoscope. JAMA. 280 (7), 638-642 (1998).
  13. Xie, J., Vatsan, M. S., Gangemi, A. Laparoscopic versus robotic-assisted Heller myotomy for the treatment of achalasia: A systematic review with meta-analysis. International Journal of Medical Robotics and Computer Assisted Surgery. 17 (4), e2253 (2021).
  14. Kim, S. S., Guillen-Rodriguez, J., Little, A. G. Optimal surgical intervention for achalasia: laparoscopic or robotic approach. Journal of Robotic Surgery. 13 (3), 397-400 (2019).
  15. Pallabazzer, G., et al. Clinical and pathophysiological outcomes of the robotic-assisted Heller-Dor myotomy for achalasia: a single-center experience. Journal of Robotic Surgery. 14 (2), 331-335 (2020).
  16. Baek, S. J., Kim, S. H. Robotics in general surgery: an evidence-based review. Asian Journal of Endoscopic Surgery. 7 (2), 117-123 (2014).
  17. Bianchi, E. T., et al. Heller-Pinotti, a modified partial fundoplication associated with myotomy to treat achalasia: technical and final results from 445 patients. Mini-invasive Surgery. 1, 153-159 (2017).
check_url/fr/64822?article_type=t

Play Video

Citer Cet Article
Antonio Aissar Sallum, R., Alexandre Fernandes, F., Torres Branco, L., Serena Arguelho Pereira, L., Maria Arruda Vilanova de Câmara, C., Beltrão Pereira Simões, Í., Donizeti de Meira Junior, J., Mello Mazepa, M., Ervolino Corbi, L., Nicida Garcia, R., Takeda, F. R. Robotic Myotomy and Partial Fundoplication for Achalasia. J. Vis. Exp. (198), e64822, doi:10.3791/64822 (2023).

View Video